Machismo estrutural não é apenas um conjunto de atitudes individuais hostis às mulheres. Ele é, sobretudo, um sistema organizado que molda instituições, normas sociais, políticas públicas, práticas jurídicas, meios de comunicação e estruturas familiares com base na superioridade masculina. Isso significa que o machismo não vive apenas na fala de quem grita impropérios no trânsito ou que não aceita chefia feminina no trabalho — ele está nos alicerces do funcionamento da sociedade.

Segundo análise do Instituto Patrícia Galvão, o machismo estrutural se sustenta por mecanismos que naturalizam a desigualdade de gênero como algo culturalmente aceitável. É essa estrutura que permite, por exemplo, que mulheres com a mesma qualificação recebam salários menores que os homens ou que sejam julgadas mais severamente em situações de liderança e confronto (Instituto Patrícia Galvão, https://www.geledes.org.br/o-que-e-machismo-estrutural/).

Não se trata apenas de episódios isolados de discriminação, mas de uma rede sistêmica que opera de forma repetida e invisível — muitas vezes, inclusive, com a conivência de quem acredita não ser machista. Um exemplo claro disso é o julgamento moral ao qual mulheres são submetidas por expressar emoções ou opiniões com firmeza, sendo rapidamente rotuladas como “desequilibradas” ou “difíceis de lidar”, enquanto comportamentos semelhantes em homens são associados a liderança ou assertividade.

De acordo com a filósofa Silvia Federici, o controle sobre o corpo e a atuação da mulher tem raízes profundas no surgimento do capitalismo moderno, que exigia a submissão feminina como peça funcional à organização social e econômica (Federici, O Calibã e a Bruxa, 2004). Esse dado histórico reforça que o machismo estrutural não é fruto do acaso, mas resultado de escolhas de poder com longa duração histórica.

Além disso, a naturalização do cuidado como papel exclusivamente feminino, a dupla jornada de trabalho e a culpabilização da mulher vítima de violência fazem parte dessa engrenagem. Esses comportamentos não são aprendidos no vácuo — eles são ensinados, reforçados e reproduzidos por gerações.

A consequência direta disso é que o machismo estrutural limita as escolhas das mulheres, impacta seu bem-estar emocional, compromete sua segurança e restringe seu protagonismo em espaços de poder. Ao mesmo tempo, ele também afeta os homens, ao lhes impor padrões de masculinidade tóxicos e violentos, algo que aprofundaremos em outro momento.

Falar em machismo estrutural, portanto, é romper com a ideia de que o problema se resume a “um ou outro homem machista”. É compreender que a raiz está na própria arquitetura da sociedade — e que, para desmontar essa engrenagem, é preciso muito mais do que boa vontade: é necessária transformação política, educacional e cultural.

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